quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O HOTEL DOS ESTRANGEIROS (1849-1950)


Por Lúcia M. C. Jardim

Em um momento em que tantos eventos tentam impulsionar a industria hoteleira olhando para trás, constata-se que desde sempre, a faceta turística da cidade demandava  com que se fizessem   investimentos  em melhores hotéis que abrigassem os viajantes com similar conforto oferecido nos hotéis da Europa. Ocorre que Euclides de Cunha já mencionava que "a despeito da beleza da cidade, cabia aos estrangeiros pernoitarem nas cabines dos navios, pois pouco ou quase nada se oferecia em termos de boa hospedagem". No início do século XX surgem diversos hotéis que ofereciam, conforto, eletricidade, telefonia, boa mesa e mobiliário requintado. Em 1917, anunciavam ao viajante,as vantagens de se hospedar em um dos recentes e modernos hotéis da cidade ,que inicia agora essa série. Começamos então a viajar por eles. 
Praça José de Alencar. Foto provavelmente serviu de base para postal abaixo.
Fonte: http://www.jblog.com.br/

Postal praça José de Alencar que adquire esse nome em 1917, tendo sido a estátua inaugurada em 1897. 
Fonte: http://correiogourmand.com.br/

Antes mesmo de entrar no prédio do Largo do Catete, as quatro Figueiras de fronte ao edifício, plantadas, por John Mayall, encantavam o visitante. Estamos nos hospedando agora, no Hotel dos Estrangeiros. Inaugurado em 1849, com instalações que traziam um conforto vanguardista para a época como duchas, telefone, e um refinado restaurante, foi exatamente por isso um dos hotéis mais procurados da cidade pela aristocracia de varias partes do mundo e pelos mais destacados políticos. 
Fonte: The Rio News 2 de Janeiro de 1900.   
No anúncio lê-se em inglês "Hotel dos Estrangeiros / Praça Ferreira Vianna / Cattete / Telefone n 3.008/ Esse hotel que foi completamente restaurado, situa-se na melhor parte da cidade, recebendo ar e luz por todos os lados, próximo a mais limpa praia da cidade e cercado por um grande jardim. Possui quartos grandes e confortáveis e bem mobilhados, bons chuveiros, e banhos quentes, desinfectantes na água, armários, água potável filtrada pelo sistema Pasteur, bom serviço de mesa, e é considerado o primeiro hotel dessa capital." / "Possui ainda suntuosos salões, e serviço de mesa esplendido para baquetes. O restaurante e serviços não podem ser superados".   
Praça José de Alencar provável vista do Hotel dos Estrangeiros. Observa-se a estátua do romancista por Rodolfo Bernardelli.
Foto de A. Ribeiro c.+1900
 Fonte: Coleção Ermakoff
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=877776&page=82 
Provável Augusto Malta semelhante a imagem encontrada no acervo do arquivo de cidade Ref. CP/PP/PAM/PC-177
Escolhido nas décadas que se seguem a sua inauguração para abrigar os grandes eventos, e recepções, seu hall, e seus salões , presenciaram importantes, passagens na história do país, e da cidade. 
O periódico o Careta em 1910 publica foto de "excursionistas americanos - Alguns dos milionários norte americanos que viajam no "Blucher", descansando no Hotel dos Estrangeiros, à sombra das árvores."
O assassinato em 1915, a facadas nos degraus que levavam ao salão de conferências de um de seus mais ilustres frequentadores Pinheiro Machado marca definitivamente a história do hotel.
A baixo do título da reportagem vê-se o cadáver exposto na sala de entrada do Hotel dos Estrangeiros.
"Assassinado pelas costas com uma punhalada certeira, morreu no dia 9 o homem que mais varonilmente encarnava na história política do Brasil contemporâneo a vocação do mando e que presidia à mais forte organização partidária do Paiz." Revista de Semana ed. 00031 de 1915.

 A Associação Brasileira da Industria de hotéis, lá é fundada em 1936, mas após sucessivas crises financeiras, em 1950 as portas de seu edifício, aonde já não mais funcionava o hotel fecham definitivamente. 

Correio da Manhã 7 de Janeiro de 1951

Em 1951, anúncios vendem apartamentos, no moderno edifício Simon Bolívar, que tem como referência aos compradores localizar-se no terreno do antigo e renomado Hotel dos Estrangeiros.

HOSPEDARIAS, APOSENTOS E CASAS DE PASTO: O começo da história dos grandes hotéis


29 de Agosto de 2014

Por Lúcia Jardim 

"Perpétua pôs a costurar, foi ela a primeira, não modista, mas costureira da rua do Ouvidor; tão pouco, porém, renderam-lhe as costuras, que para viver começou a explorar outro recurso, abrindo ao concurso do público uma pequena saleta de sua casa, mesa muito asseada, na qual vendia lombo de porco em vários guisados primorosamente preparados, linguiças e bolos e diversos acepipes culinários de farinha de milho. Em linguagem moderna combinada com a antiga, inglesa abrasileirada, a pobre e infeliz Perpétua abriu casa de lunch à mineira. Foi daí que começou a sua alcunha Perpétua Mineira."      

Joaquim Manuel de Macedo em Memórias da Rua do Ouvidor


As hospedarias, algumas com casas de pasto, começam a surgir após a vinda da Corte para o Brasil. Nos primeiros anos da instalação da Corte os estrangeiros que aqui aportavam não contavam com hotéis ou qualquer outro tipo de hospedagem com algum conforto razoável, já disponíveis em número significativo na Europa.

Frederico Guilherme Briggs. Detalhe de Panorama da Cidade do Rio de Janeiro - 1837. 
Litogravura aquarelada

Com a vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro diversos estrangeiros  aportaram  na cidade ávidos por conhecer a antiga colônia então elevada a reino unido  a Portugal e Algarve. 



Em 1810 não havia nenhum registro de acomodações na cidade, no entanto, já na década seguinte audaciosos e precursores comerciantes, em sua maioria estrangeiros, ofereciam acomodações e boa mesa a quem as procurava na Corte.

Karl Wilhelm Von Theremin. Litogravura. 1835Homens conversam de fronte ao Paço

Algumas delas como as hospedarias do Arco do Teles, a Estalagem da Rua de São Pedro, a Estalagem do Engenho Velho, a Estalagem Do Sr João José Brito na Rua dos Ciganos, de muita simplicidade, e outras em pequeno número, que já se autointitulavam hotéis, o que lhes atribuía mais status: o Hotel do Norte na Rua Direita, a Hospedaria Italiana e o Hotel do Império na Rua do Rosário, o Obrien Hotel ou a Hospedaria Inglesa, na Rua do Ouvidor,  o Hotel União , na Rua do Rosário e o Hotel Pharoux, ainda acanhado na Rua da Quitanda, com casas de pasto e suas mesas redondas em horários definidos, serviam boas refeições aos hóspedes ou a quem as quisesse degustar. Todos localizados na região central da cidade.

Fonte: BN digital
Pustkow, Friedrich. Hotel Pharoux. c. + 1840. 

O Hotel Pharoux já em 1838 se torna o primeiro grande hotel da corte, quando então se transfere para a Rua Fresca de frente para entrada da Baia, no que viria a se chamar mais tarde devido a ele Cais Pharoux. 

Esses comerciantes precursores talvez não imaginassem a vocação turística que futuramente se confirmaria, mas atentos às necessidades do momento deram os primeiros passos na direção dos grandes hotéis pelos quais temos viajado nesta série.