Cidade e Memória

Série Hotéis do Rio Antigo - Parte II

Por Lúcia Jardim 

14 de Dezembro de 2014

O Hotel Pharoux (1838 - c.1860)

“...Velhos do meu tempo, acaso vos lembrais desse mestre cozinheiro do Hotel Pharoux, um sujeito que, segundo dizia o dono da casa, havia servido nos famosos Véry e Véfour, de Paris, e mais nos palácios do Conde Molé e do Duque de la Rochefoucauld? Era insigne. Entrou no Rio de Janeiro com a polca... A polca, M. Prudhon, o Tivoli, o baile dos estrangeiros, o Cassino, eis algumas das melhores recordações daquele tempo; mas sobretudo os acepipes do mestre eram deliciosos.”
Memórias Póstumas de Brás Cubas por Machado de Assis - Capítulo CXV: O almoço


Em frente à ponte de desembarque no Largo do Paço, surgiu o Hotel Pharoux. A princípio, na Rua da Quitanda, não passava de uma Hospedaria e casa de Pasto, mas em 1838, transfere-se para a Rua Fresca na praia de D Manuel, e ressurge refinado, confortável, trazendo a corte um glamour europeu. O Jornal do Comércio de 12 de Fevereiro de 1838 anuncia as novas instalações. "Mudança de Casa"

“Luiz Pharoux tem a honra de participar ao respeitável público desta corte, que ele acaba de transferir a sua hospedaria da Rua da Quitanda para a Rua Fresca número 3, em frente ao mar" (O Jornal do Comércio, 12 de Fevereiro de 1838)

Adolphe D´Hastrel - Praia D. Manuel Cais Pharoux 1841 - 20.5 X 34,5 Litogravura Coleção Geyer/ Museu Imperial de Petrópolis 

O hotel de Luiz Pharoux, francês que viera dar na corte por motivos políticos, trazia em suas instalações, requinte nada usuais para os padrões da época. Com salas para jantares que comportavam mais de oitenta pessoas, cardápio sofisticado ao gosto de Paris. O rico mobiliário e seus banhos eram um atrativo a mais, em uma cidade que oferecia até então somente hospedarias pouco confortáveis e uma mesa sem grandes variedades nas casas de pasto, que já se multiplicavam pelas ruas. 

Chafariz do Largo do Paço. Vê-se ao fundo a esquerda o Hotel Pharoux s/d
Fonte: Biblioteca MHN vol XVI-1966

O hotel Pharoux, tinha excelente frequência da sociedade local, frequentado também por muitos viajantes franceses, que junto ao seu bem humorado e cortês proprietário, passavam horas agradáveis lembrando a pátria. Construiu o cais que acabou levando seu nome, e fez desse magnífico e aprazível local um ponto de encontro para os que podiam usufruir do conforto de um bom vinho, e de uma boa mesa abençoados pelas brisas do mar. Lá também promoveu o primeiro evento que trouxe a fotografia para o Brasil, em 1840, e em 43 lá se estabeleceu o primeiro ateliê fotográfico do Rio de janeiro.

Ensaio fotográfico realizado em frente ao Hotel Pharoux, 1860 - Foto de R.H Klumb

Ao final dos anos sessenta Luiz Pharoux retorna a França, o edifício pouco tempo depois passa a abrigar a Casa de Saúde do Dr Catta Preta & Werneck. Após algum período de abandono lá se fixa o Hotel Real que nem de longe lembrava o luxuoso Pharoux. Ao fim dos anos 50, precisamente em 1958, anuncia-se o seu desaparecimento, para dar lugar às modificações provenientes da Perimetral. 

Correio da Manhã de 31 de Março de 1954 ed. 18715

Diário da Noite - 1958  ed A11310


Luiz Pharoux morre na França, em 1867, sem nunca haver conseguido plantar as arvores defronte ao hotel, indeferidas pela municipalidade. Quando desaparece de nossos olhos o edifício que abrigou o principal capítulo da história da hotelaria, já morre decadente, esquecida a sua importância, abrindo lugar ao progresso, que hoje também se torna passado, sem poder, no entanto, nos restituir a história.

Chafariz do Mestre Valentim Novembro de 2014, já sem a perimetral
Foto de Lúcia Jardim


A Confeitaria Colombo 120 anos

21 de Setembro de 2014

Por Lúcia Jardim

Em uma Segunda feira de 1894, no dia 17 de Setembro abria as portas a Confeitaria Colombo. 
Confeitaria Colombo 1894
Fonte: efemeridesdoefemello.com/
Manuel Lebrão e Meirelles, ao se associarem, nos legam um presente de valor inestimável, na Rua Gonçalves Dias. 
Manoel José Lebrão
Fonte: MATTOS, Betty e TRAVASSOS, Alda. Colombo 100 anos no dia a dia da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, s.n. 1994


Joaquim Borges de MeirellesFonte: MATTOS, Betty e TRAVASSOS, Alda. Colombo 100 anos no dia a dia da cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, s.n. 1994


Almanaque administrativo, mercantil e industrial do Rio de Janeiro 1894

Possuindo a princípio um pequeno salão com algumas mesas, e no mês seguinte inaugurando uma estufa esmeradamente confeccionada nas oficinas dos Srs  Cunha, Porto & Irmãos , com fábrica a Rua do Lavradio, já expunham aos clientes seus biscoitos, bolos, línguas de sogra, orelhas de frade, e as belas caixas de bombom para presentes. 
Festa de Aniversário da Colombo em 1914
Fonte: Revista a Illustração Brasileira ed. 00600

Em pouco tempo, já havia Manuel Lebrão conquistado a clientela, com sua gentileza e amizade, o que fez   com que a confeitaria atrai-se frequentadores de expressão, grandes políticos, literatos, como Machado de Assis, Olavo Bilac, Emílio de Menezes, Pardal Mallet, Guimarães Passos e muitos outros, que ao cair da tarde,  tomavam as mesas do estabelecimento, juntamente com as cocotes francesas, substituindo as Senhoras e Senhoritas que se retiravam antes do fim da tarde. 

Confeitaria Colombo 1922 - Inauguração do segundo piso.
Fonte: Ilustração Brasileira ed 00025

Em meio a nata boemia andava pelo salão Menelik, o cachorro do lebrão que tinha o privilégio de ter transito livre na confeitaria, e que mereceu versos de Emílio de Menezes. Presidentes da República, como Getúlio e Juscelino, também foram habitues do estabelecimento. Manuel Lebrão, o “Papai Lebrão” para muitos clientes, por sua bondade, gentileza e que por enumeras vezes esquecia dividas de clientes amigos, foi também um empreendedor, um disciplinado comerciante, um patrão justo apesar de rígido. Com a máxima “O cliente tem sempre razão”, Lebrão fez amigos, fez de sua confeitaria um ponto de encontro, e fez história. Seu legado chega a nossos dias, ainda nos encantando, com seus salões, seus espelhos, e suas estufas repletas de sabor.

Propaganda da Confeitaria Colombo de 1945
Fonte: Ilustração brasileira ed 00128


Série Hotéis do Rio Antigo

"Os edifícios antigos não nos pertencem. Em parte são propriedade daqueles que o constroem, em parte das gerações que estão por vir. Os mortos ainda tem direito sobre eles, aquilo por que se empenharam não cabe a nós tomar." 
John Ruskin

HOSPEDARIAS, APOSENTOS E CASAS DE PASTO: O começo da história dos grandes hotéis 

29 de Agosto de 2014

Por Lúcia Jardim 

"Perpétua pôs a costurar, foi ela a primeira, não modista, mas costureira da rua do Ouvidor; tão pouco, porém, renderam-lhe as costuras, que para viver começou a explorar outro recurso, abrindo ao concurso do público uma pequena saleta de sua casa, mesa muito asseada, na qual vendia lombo de porco em vários guisados primorosamente preparados, linguiças e bolos e diversos acepipes culinários de farinha de milho. Em linguagem moderna combinada com a antiga, inglesa abrasileirada, a pobre e infeliz Perpétua abriu casa de lunch à mineira. Foi daí que começou a sua alcunha Perpétua Mineira."      

Joaquim Manuel de Macedo em Memórias da Rua do Ouvidor


As hospedarias, algumas com casas de pasto, começam a surgir após a vinda da Corte para o Brasil. Nos primeiros anos da instalação da Corte os estrangeiros que aqui aportavam não contavam com hotéis ou qualquer outro tipo de hospedagem com algum conforto razoável, já disponíveis em número significativo na Europa.

Frederico Guilherme Briggs. Detalhe de Panorama da Cidade do Rio de Janeiro - 1837. 
Litogravura aquarelada
Com a vinda da corte portuguesa para o Rio de Janeiro diversos estrangeiros  aportaram  na cidade ávidos por conhecer a antiga colônia então elevada a reino unido  a Portugal e Algarve. 


Em 1810 não havia nenhum registro de acomodações na cidade, no entanto, já na década seguinte audaciosos e precursores comerciantes, em sua maioria estrangeiros, ofereciam acomodações e boa mesa a quem as procurava na Corte.

Karl Wilhelm Von Theremin. Litogravura. 1835Homens conversam de fronte ao Paço

Algumas delas como as hospedarias do Arco do Teles, a Estalagem da Rua de São Pedro, a Estalagem do Engenho Velho, a Estalagem Do Sr João José Brito na Rua dos Ciganos, de muita simplicidade, e outras em pequeno número, que já se autointitulavam hotéis, o que lhes atribuía mais status: o Hotel do Norte na Rua Direita, a Hospedaria Italiana e o Hotel do Império na Rua do Rosário, o Obrien Hotel ou a Hospedaria Inglesa, na Rua do Ouvidor,  o Hotel União , na Rua do Rosário e o Hotel Pharoux, ainda acanhado na Rua da Quitanda, com casas de pasto e suas mesas redondas em horários definidos, serviam boas refeições aos hóspedes ou a quem as quisesse degustar. Todos localizados na região central da cidade.

Fonte: BN digital
Pustkow, Friedrich. Hotel Pharoux. c. + 1840. 
O Hotel Pharoux já em 1838 se torna o primeiro grande hotel da corte, quando então se transfere para a Rua Fresca de frente para entrada da Baia, no que viria a se chamar mais tarde devido a ele Cais Pharoux. 

Esses comerciantes precursores talvez não imaginassem a vocação turística que futuramente se confirmaria, mas atentos às necessidades do momento deram os primeiros passos na direção dos grandes hotéis pelos quais temos viajado nesta série.
  
  

O HOTEL DOS ESTRANGEIROS (1849-1950)

Por Lúcia M. C. Jardim

Em um momento em que tantos eventos tentam impulsionar a industria hoteleira olhando para trás, constata-se que desde sempre, a faceta turística da cidade demandava  com que se fizessem   investimentos  em melhores hotéis que abrigassem os viajantes com similar conforto oferecido nos hotéis da Europa. Ocorre que Euclides de Cunha já mencionava que "a despeito da beleza da cidade, cabia aos estrangeiros pernoitarem nas cabines dos navios, pois pouco ou quase nada se oferecia em termos de boa hospedagem". No início do século XX surgem diversos hotéis que ofereciam, conforto, eletricidade, telefonia, boa mesa e mobiliário requintado. Em 1917, anunciavam ao viajante,as vantagens de se hospedar em um dos recentes e modernos hotéis da cidade ,que inicia agora essa série. Começamos então a viajar por eles. 
Praça José de Alencar. Foto provavelmente serviu de base para postal abaixo.
Fonte: http://www.jblog.com.br/


Postal praça José de Alencar que adquire esse nome em 1917, tendo sido a estátua inaugurada em 1897. 
Fonte: http://correiogourmand.com.br/

Antes mesmo de entrar no prédio do Largo do Catete, as quatro Figueiras de fronte ao edifício, plantadas, por John Mayall, encantavam o visitante. Estamos nos hospedando agora, no Hotel dos Estrangeiros. Inaugurado em 1849, com instalações que traziam um conforto vanguardista para a época como duchas, telefone, e um refinado restaurante, foi exatamente por isso um dos hotéis mais procurados da cidade pela aristocracia de varias partes do mundo e pelos mais destacados políticos. 
Fonte: The Rio News 2 de Janeiro de 1900.   
No anúncio lê-se em inglês "Hotel dos Estrangeiros / Praça Ferreira Vianna / Cattete / Telefone n 3.008/ Esse hotel que foi completamente restaurado, situa-se na melhor parte da cidade, recebendo ar e luz por todos os lados, próximo a mais limpa praia da cidade e cercado por um grande jardim. Possui quartos grandes e confortáveis e bem mobilhados, bons chuveiros, e banhos quentes, desinfectantes na água, armários, água potável filtrada pelo sistema Pasteur, bom serviço de mesa, e é considerado o primeiro hotel dessa capital." / "Possui ainda suntuosos salões, e serviço de mesa esplendido para baquetes. O restaurante e serviços não podem ser superados".   
Praça José de Alencar provável vista do Hotel dos Estrangeiros. Observa-se a estátua do romancista por Rodolfo Bernardelli.
Foto de A. Ribeiro c.+1900
 Fonte: Coleção Ermakoff
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=877776&page=82 
Provável Augusto Malta semelhante a imagem encontrada no acervo do arquivo de cidade Ref. CP/PP/PAM/PC-177
Escolhido nas décadas que se seguem a sua inauguração para abrigar os grandes eventos, e recepções, seu hall, e seus salões , presenciaram importantes, passagens na história do país, e da cidade. 
O periódico o Careta em 1910 publica foto de "excursionistas americanos - Alguns dos milionários norte americanos que viajam no "Blucher", descansando no Hotel dos Estrangeiros, à sombra das árvores."
O assassinato em 1915, a facadas nos degraus que levavam ao salão de conferências de um de seus mais ilustres frequentadores Pinheiro Machado marca definitivamente a história do hotel.
A baixo do título da reportagem vê-se o cadáver exposto na sala de entrada do Hotel dos Estrangeiros.
"Assassinado pelas costas com uma punhalada certeira, morreu no dia 9 o homem que mais varonilmente encarnava na história política do Brasil contemporâneo a vocação do mando e que presidia à mais forte organização partidária do Paiz." Revista de Semana ed. 00031 de 1915.

 A Associação Brasileira da Industria de hotéis, lá é fundada em 1936, mas após sucessivas crises financeiras, em 1950 as portas de seu edifício, aonde já não mais funcionava o hotel fecham definitivamente. 


Correio da Manhã 7 de Janeiro de 1951

Em 1951, anúncios vendem apartamentos, no moderno edifício Simon Bolívar, que tem como referência aos compradores localizar-se no terreno do antigo e renomado Hotel dos Estrangeiros.


A GALERIA CRUZEIRO (1908-1957)

Por Lúcia M. C. Jardim

Hotel Avenida e Galeria Cruzeiro S/D
Fonte: Imagem furtada* - acervo do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ)
http://www0.rio.rj.gov.br/cultura/site/fr_noticia_roubo.php

A Galeria Cruzeiro foi inaugurada a 23 de dezembro de 1908, sendo assim batizada por se cruzarem nela duas alamedas que formavam uma cruz, da Rua São José à Bittencourt Silva e outra do Largo da Carioca à Avenida Central (Rio Branco).


Fonte: Postal de 1910 - Casa do Rio - www.casadorio.com.br
Segundo o Jornal O Século, em 6 de fevereiro de 1909, nos baixos (ou no rés-do-chão) do Hotel Avenida, em edifício pertencente a Companhia de Bondes Jardim Botânico, ainda não tinha todas as suas lojas alugadas. Inaugurou-se, no entanto, antes da abertura oficial da Galeria, a tradicional Casa Santiago, sucursal da firma Lopes & Companhia, que já funcionava no Mercado Municipal, com suas frutas de qualidade inigualáveis e artigos finos, como manteigas queijos e doces. Oferecia preços módicos aos usuários dos bondes em seus retornos aos lares por localizar-se bem junto a sala de espera da Companhia de bondes Jardim Botânico.
Fonte: Jornal o Século de 5 de Novembro de 1908

Aos poucos grandes lojas vão se estabelecendo em suas alamedas. O depósito de Calçados Coelho, que mereceu o premio da exposição nacional de 1908, em suas prateleiras havia grande variedade de calçados, chapéus, guarda-chuvas e bengalas. A Leiteria Mineira, com seu leite puro, manteigas, queijos, coalhada e cremes, aos poucos vira tradição.

Fonte: Jornal Correio da Manhã de 2 de Junho de 1910
Vide letreiro da Leiteria Mineira - Galeria Cruzeiro s/d
Fonte: www.rioquepassou.com.br/

E o que falar da Casa Stephen? A melhor quando se falava em pianos, vitrolas, rádios, malas e canetas, com facilidades no pagamento.




A essas se somaram diversas lojas como a Maison Nuguet, a Loteria Sonho de Ouro, a Laranjada Brasil, e o Bar da Brahma que, junto com o restaurante Franziskaner nos baixos (ou no rés-do-chão)   do hotel Avenida, deixavam clara a vocação comercial dessa nova artéria da cidade. Vale aqui falar rapidamente do Restaurante Franziskaner, com sua excelente orquestra, que se apresentava de 7 às 12 horas da noite, com serviço de mensageiro, charutaria e refeições refinadas em seus salões, frequentados pela elite carioca.

Vide letreiro da Laranjada Brasil - Galeria Cruzeiro s/d
Fonte: www.rioquepassou.com.br/

Conviveram nos baixos (ou no rés-do-chão) do hotel Avenida e nos braços da Galeria Cruzeiro, hóspedes e transeuntes; a elite que incluía grandes políticos, bicheiros habitués do lugar, os homens de duvidosa moral e seus espelhos na ponta das bengalas a espiar sem pudores as mulheres que ali embarcavam , desembarcavam ou estavam em transito, aproveitando o próspero comércio; e os artistas de pouco ou nenhum sucesso que fizeram da Galeria seu ponto de encontro.

Malta - Hotel Avenida e Galeria Cruzeiro S/D
Fonte: Imagem furtada* - acervo do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ)
http://www0.rio.rj.gov.br/cultura/site/fr_noticia_roubo.php
A vida em ebulição desse centro aberto em cruz, na elegante e jovem Avenida, já fazia pulsar o coração do carioca, neste amálgama de refinamento, diferenças e contrastes.

A Galeria símbolo de uma época e do povo carioca, também desaparece em 1957 de nossos olhos, cedendo ao progresso, mas deixa na alma da Avenida sua essência.






* Divulgação imagens furtadas do AGCRJ - As fotos da iconografia tinham no verso, escritos com lápis 6B: número do registro da imagem, assunto, número da pasta, número do negativo, NV (no caso de negativo em vidro), número do CD (se já digitalizada) e carimbo do Arquivo da Cidade (algumas)
Favor em caso de compartilhamento ou uso dessas imagens para finalidades acadêmicas citar como acervo furtado do AGCRJ


                            






HOTEL AVENIDA (1908-1957)

                                                                                                         Por Lúcia M. C. Jardim


Hotel Avenida e Galeria Cruzeiro S/D
Fonte: Imagem furtada* - acervo do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ)
http://www0.rio.rj.gov.br/cultura/site/fr_noticia_roubo.php


  Fonte: O Século, 1908 ed. 000176
                                                            
Hotel Avenida recém inaugurado- vê-se a direita da foto o chafariz do Largo da Carioca
Marc Ferrez. Largo da Carioca 1908. FERREZ, G. O Rio de Janeiro do Fotografo Marc Ferrez, Ed. Libris, 3a ed. 1989 p.190. 

            
Em primeiro de julho de mil novecentos e oito inaugurou-se o Hotel Avenida, localizado na então Avenida Central onde hoje existe outro edifício de mesmo nome. De propriedade de Souza Cabral & Co. localizava-se no ponto dos bonds da Companhia Jardim Botânico, que abrigou a tão famosa Galeria Cruzeiro.


Projeto de Aprovado em 11 de Dezembro de 1905. Vide Galeria Cruzeiro
Fonte: http://www2.rio.rj.gov.br/smu/acervoimagens/imagenspaa/1/0/152.JPG

Impressões do Brazil no Seculo Vinte, editada em 1913 e impressa na Inglaterra por Lloyd's Greater Britain Publishing Company, Ltd. Foto publicada com o texto, página 588

                O renomado Hotel dispunha de 220 quartos, salões luxuosos para jantar café, leitura e palestras. Mobiliado com sofisticação, ainda oferecia dois elevadores uma grande modernidade para época. O Avenida hospedou e recebeu grandes personalidades, como Enrico Caruso quando em sua primeira viagem ao Rio de Janeiro. O chefe de portaria Alfredo Cavalcanti da Silva, em 1957, conta ao Diário de Notícia que após 46 anos de trabalho teria conhecido quase todos os presidentes da República. Nomes como Arthur Bernardes, Washington Luis, Epitácio Pessoa, Clóvis Beviláquia, foram frequentadores do Hotel e da Galeria. Em 1957,os moldes americanos de arquitetura e ocupação urbana começam a mudar o aspecto francês idealizado por Pereira Passos. Desaparece então o Hotel Avenida e sua Galeria Cruzeiro para abrirem passagem ao progresso, descaracterizando a tão elegante Avenida Central que em 1912 passa a se chamar Avenida Rio Branco. 

Fonte: Revista da semana, 1956 ed. 00044

                 No mesmo local onde antes existiu a renomada galeria e o Hotel Avenida hoje existe o Edifício Avenida Central. 

Edifício Avenida Central - 2014
Foto: Renata Jardim

FLUMINENSE HOTEL (1912-1941)

Por Lúcia M. C. Jardim

                 Inaugurado em Agosto de 1912 na Praça da Republica, o Fluminense Hotel oferecia a seus hospedes no inverno de 1917 em anuncio na Revista da Semana, confortáveis acomodações para 200 pessoas, com quartos arejados e ventilados, com água canalizada, mesa de telefonia, excelente restaurante, alem de uma localização privilegiada devido a proximidade com a estrada de ferro. 
                O fluminense hotel em seu prédio próprio, com elegante mobiliário, desapareceu em 1941 quando da abertura da Avenida Presidente Vargas.

Fonte: Revista da Semana, ed.00015 Março de 1917. Fl. 01


RIO PALACE HOTEL (1915-1941)




Por Lúcia Jardim
Rio Palace Hotel 1917
Fonte: Laeti iagens / Luísa Henriqueta 


Vamos adentrar agora em mais um hotel da Companhia dos Grandes Hotéis Centraes, o Rio Palace Hotel. 

Fonte: Foto de Malta. ERMAKOFF, G. Rio de Janeiro uma crônica fotográfica. 1a ed. Rio de Janeiro, 2013 p.19 

                                      Antiga sede da loja de departamentos Parc Royal o mesmo
                                               local, após obras de reedificação abrigou o Rio Palace Hotel

No antigo casarão reedificado, que abrigava a famosa loja de departamentos Parc Royal, inaugura-se, no dia 17 de outubro de 1915, o confortável Rio Palace. Com cinco pavimentos, escadarias de mármore, elevadores elétricos, poderíamos avistar em sua sala de música, na de leitura, ou em sua sala de barbearia, um toque de elegância inglês em seu mobiliário. Proporcionava aos hóspedes uma ótima localização e a independência para se tomar as refeições aonde lhes conviesse, tendo como opções os dois outros hotéis da rede, o Avenida e o Globo, ambos com esmerados restaurantes, sem que se alterasse o preço. O Palácio da Rua dos Andradas que abrigava o hotel, situado no Largo de São Francisco, anunciava no Correio da Manhã, em 1941, a venda de seus móveis e utensílios usados. Comprado pelo Banco Hipotecário Lar Brasileiro, desaparece também da história carioca.

Fonte: O Pharol 1916 ed. 001396



Largo de São Francisco: Edifício que hoje existe no local que antes abrigou o Rio Palace Hotel
Fonte: Google 




3 comentários:

  1. Excelente matéria. Meus cumprimentos ! Resgatou parte da história da construção civil do Rio e do Brasil. Sobretudo a antítese que reina entre grupos de intelectuais a respeito de preservar ou não importantes obras marcos da cultura nacional. No caso, a demolição do Hotel Avenida Central X construção do edifício Avenida Central. Os contrários a esta última hipótese entendem que o órgão governamental de preservação cultural deveria ter obstado sua demolição. Os favoráveis tentam justificar que não se deve evitar o progresso.
    O fato é que hoje poderíamos ter o Centro do Rio em estilo do início do seculo passado e um outra parte em concepções e estilos modernos, co podemos constatar em cidades européias, Paris, Madrid, Roma, Viena, entre outras.

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  2. Existia até alguns anos atrás (três, para ser mais exato) uma figueira centenária, em local atualmente ocupado por mesas do restaurante Planalto do Chopp, que muito provavelmente era umas das quatro retratadas nas imagens do Hotel dos Estrangeiros.
    A mesma "caiu" após uma chuva em Janeiro de 2012.

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